Exemplo de redação
Brasil: a esperança apesar dos problemas
O povo brasileiro sempre foi considerado alegre e otimista, não só por outros povos, como pelos próprios brasileiros, como já se pôde observar em diversas pesquisas de opinião pública. Porém, otimismo não significa necessariamente uma autoestima fortalecida. Observa-se frequentemente na população uma profunda valorização do estrangeiro em detrimento do nacional.
O Brasil é um país inegavelmente belo e rico em recursos naturais. Somos conhecidos no exterior por nossos atrativos turísticos, por nosso premiado futebol e por nosso procurado carnaval. No mais, somos vistos apenas como um país pobre, dependente economicamente e subdesenvolvido, o que não é falso.
Sofremos com a miséria e com o desemprego. Temos um vasto potencial aproveitável: terras para cultivo, rios para gerar energia e para navegação, mas não há investimentos. Não se investe sequer em educação. É nosso perfil "Macunaíma", de certa forma acomodados e coniventes com a situação existente. E valorizamos o que vêm de fora, como produtos importados, tecnologia comprada de empresas americanas ou europeias, ao invés de tentar desenvolver um similar nacional, porque não confiamos na qualidade desse. Até diplomas de faculdades ou cursos no exterior são mais valorizados, enquanto muitas empresas estrangeiras vêm buscar profissionais nas universidades daqui.
Essas não são propriamente características de um povo de muita autoestima. Somos cientes de nossa bela "aparência", mas esse é um dos únicos aspectos em que reconhecemos nosso valor. Em outros, sabemos que há muito o que melhorar. Talvez a definição correta para o nosso otimismo seja sermos esperançosos, acreditarmos ter tudo a nosso favor e sermos "abençoados por Deus". Há esperança de se atingir o posto de superpotência, mas falta coragem e atitude. É necessário que a nossa "população Macunaíma" adquira "caráter" para acabar com a corrupção e a impunidade que nos derruba. Assim, nossas esperanças poderão se concretizar um dia.
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Análise da redação
DUALIDADE BEM EXPLORADA: o autor explora com habilidade os modos diversos e contraditórios do sentimento do brasileiro em relação a si mesmo. Logo na introdução, expõe uma dualidade ao afirmar que o conhecido otimismo do povo "não significa necessariamente uma autoestima fortalecida"- ideia fundamentada pelo argumento de que existe "uma profunda valorização do estrangeiro em detrimento do nacional".
BOA ENUMERAÇÃO: depois desse encadeamento coerente de ideias, o candidato exemplifica causas concretas para o sentimento ambíguo: de um lado, a natureza, o futebol, o Carnaval; de outro, a pobreza e o subdesenvolvimento. A boa enumeração de exemplos que ocupa todo o terceiro parágrafo é um ótimo reforço para sua tese.
PROPOSTA COMO CONCLUSÃO: no terceiro e último parágrafos, o autor introduz um pensamento que sintetiza as ideias apresentadas e indica uma pré-conclusão: "Essas não são propriamente características de um povo de muita autoestima". 0 que se segue é um claro resumo da dualidade: "Somos cientes de nossa bela 'aparência', mas esse é um dos únicos aspectos em que reconhecemos nosso valor". Em seguida, o autor propõe uma solução do problema, apoiada em uma paráfrase de uma conhecida obra de Mário de Andrade, Macunaíma. Para superar problemas como a corrupção e a impunidade, seria necessário que a "população Macunaíma" (referência ao anti-herói preguiçoso do livro) superasse o mero conformismo de um povo "abençoado por Deus" e agisse em favor do progresso socioeconômico. Um bom exemplo de síntese acompanhada de proposta - e enriquecida pela surpresa da citação de Macunaína e seu caráter.